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quarta-feira, 2 de março de 2016

Poesia:"A Razão de um Poeta"



Ai desse poeta cético e incrédulo na vida que no teu sorrir e olhar achou a inspiração para crer naquilo que jamais viveu!

Pobre poeta que jamais com suas mãos tocou a tua pele alva e delicada, branca como a geada na relva ao amanhecer em aurora de inverno...

Ai desses lábios que sequer pretenderam até hoje os teus tocarem de forma uníssona, harmônica e intrínseca...

Mísero poeta que nunca roçou com a face teus cabelos e nem aspirou deles o perfume de alfazema inebriando a alma e o coração...

E o que dizer de teu corpo, esguio e belo, a enfeitiçar o meu com o selvagem desejo de possuir-te por inteira?

Como viste, palavras são inúteis sendo a mim apenas necessárias a tua presença, tua voz e a tua alma...

Eia a verdadeira razão da minha existência, querida e doce senhorita!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Na Antessala do céu


                                       "Na Antessala do céu"


     Badalava o sino da Igreja Matriz anunciando o meio-dia, a hora sagrada para os cristãos católicos de todo o mundo. E o responsável por esse importantíssimo serviço espiritual era o coroinha da Paróquia, Sávio.

     Era um rapaz que contava cerca de 20 anos de idade, esguio e regrado em todas as áreas de sua vida. Muito estimado pelos fiéis e pelo padre, era muito devoto daqueles santos esculpidos em ouro que adornavam os altares da bela igreja edificada no mais perfeito estilo gótico.
     Seus pais sentiam-se incomodados por essa dedicação total e quase em tempo integral de Sávio à paróquia e chegavam, inclusive, a duvidar de sua masculinidade. Ora, um rapaz de sua idade deveria ter uma vida social, passear com os amigos, fazer uma farra de vez em quando e, principalmente, namorar garotas da sua idade.
 

     O pai, um militar aposentado, guardava para si a desconfiança sobre a preferência sexual do filho. Não admitia nem sonhando a possibilidade de ter um filho pederasta, termo usado na época para definir o indivíduo homossexual.

     Em outro ponto da cidade, Hiraldo já se encontrava na cozinha de sua bela casa para almoçar com a dedicada e amorosa esposa Adriana. Esse casal fazia parte do rol dos mais devotos paroquianos da igreja de padre Hélio e seu fiel coroinha.
 

     Ela (Adriana), uma dama de modos altivos, severa nos hábitos e nos costumes, uma figura irrepreensível do ponto de vista cristão. Exigia, a matrona católica, que seu marido fizesse o sinal da cruz com a mão direita toda fez que o sino da igreja tocasse.Ou seja, ao meio-dia e às 18 horas.
     Incomodado com o ritual, mesmo sendo religioso, Hiraldo preferia não contrariar a esposa e logo se benzia com a mão direita como desejava Adriana. - "Que mal pode haver nesse desejo de minha esposa"? – interiorizava Hiraldo.
     E assim sucediam os dias em que marido e mulher cotidianamente viviam sob o amor e a benção de Cristo, frase dita por padre Hélio no dia do casamento dos dois e que prevalecia na mente daquele casal paladino da moral cristã e dos bons costumes.
     Não tinha filho o casal, sem nenhuma explicação aparente, talvez porque seus momentos

íntimos fossem mínimos em todos esses anos de convivência.


     Tentava por vezes, Hiraldo, quebrar o protocolo dessa relação tão casta que tinha com a esposa. Tudo entre eles era muito regrado pelo Altíssimo conforme a orientação do santo sacerdote em seus intermináveis sermões na missa de domingo!

Certa vez, Hiraldo, cansado de tanto trabalhar naquele cartório onde lidava com aqueles trâmites burocráticos que nada acrescentavam a sua vida, resolveu surpreender a esposa chegando mais cedo em casa com um presente insinuante para tentar melhorar a vida íntima deles. Era uma lingerie ousada na cor vermelha!


     Ao abrir o presente, Adriana ficou indignada com o marido, pois ela não admitia que uma mulher de família usasse uma calcinha tão minúscula quanto essa que o marido lhe dava agora e ainda mais na cor que,segundo ela, representava o pecado carnal. –"Ora, está maluco, Hiraldo? Que juízo faz de mim ao me trazer esse tipo de presente"? – humilhava o marido.
Hiraldo ficou constrangido com a recusa de sua esposa em receber a tal lingerie vermelha, mas, logo, sentiu-se um marido privilegiado em ter uma 

 

esposa honesta que jamais o trairia, pois era recatada em tudo. Era uma benção ter uma mulher que dedicava sua vida a devotar os santos, a praticar boas ações e a interceder por meio de novenas e promessas pelas almas pecadoras. – "Que privilégio desposar uma esposa assim"- gabava-se junto aos amigos de cartório.
     Certo dia, pontualmente às 18 horas, Hiraldo chegou a casa e não encontrou a esposa Adriana. Ele estava sem relógio para consultar as horas, mas, ao ouvir o sino que o coroinha badalava,concluiu: - "É a hora da ave-maria"!
     Imaginou, então, que a esposa estivesse na igreja em suas infinitas preces aos santos e ao "Poderoso Chefão". Quis surpreendê-la no templo sagrado e comprou um lindo ramalhete de flores do campo de diversas cores. Todas as cores, menos uma: vermelha. A cor que representa o pecado segundo Adriana.
     Quando entrou pela grande porta do templo, estranhou o silêncio e a ausência das beatas,mas,resolveu continuar caminhando até à sacristia, pois julgou que a esposa estaria lá encomendando uma missa em memória das almas pecadoras que necessitavam da salvação eterna.

Sentiu-se envergonhado por caminhar entre os santos com aquele ramalhete de flores, o presente para sua amada.Após uma breve reflexão, concluiu que não era pecado demonstrar o amor que ele sentia por sua esposa e achou que até mesmo padre Hélio iria aprovar seu gesto.
 


     Ansioso, Hiraldo estava junto da porta da sacristia e tudo permanecia no mais absoluto silêncio, próprio da "Casa de Deus".
    Resolveu adentrar ao recinto tão sacro, pode-se dizer que a sacristia é a antessala do céu. Orgulhou-se, por um segundo, dessa metáfora que criara naquele momento de inspiração e repetiu em voz alta: "A sacristia é a antessala do céu"!
 

     Mas, para sua surpresa, foi nesse sacro lugar de paredes adornadas pela arte barroca que Hiraldo, atônito e incrédulo, viu sua amada e caridosa esposa, Adriana, sentada no colo do coroinha desnudo, sim esse que todos julgavam ser homossexual!
 
 

     Ela retorcia-se freneticamente cavalgando sobre o rapaz com uma minúscula lingerie vermelha que tanto rechaçava e condenava por estar relacionada ao mais abjeto dos pecados: o pecado carnal!

Hiraldo, diante dessa cena, só teve tempo de interromper aquele coito perverso e pecaminoso de sua religiosa esposa com o dedicado coroinha da igreja gritando desesperadamente e, logo, tombou duro no chão da sacristia vítima de um ataque fulminante do coração.
     Adriana, assustada, saiu do colo do coroinha, aproximou se do corpo inerte do marido e cerrou com suas delicadas mãos os olhos de Hiraldo. Depois, pegou o ramalhete de flores do campo que o marido lhe trouxera e colocou sobre as mãos cruzadas no peito do morto.
 

     Fez o sinal da cruz ante o cadáver e, enquanto se vestia, teve um pensamento que consolou seu coração e, ao mesmo tempo, fez com que sentisse o perdão de seu pecado. Afinal, por morrer na antessala do céu, a alma do marido deve ter sido imediatamente recebida pelo Altíssimo.

     E a poucos metros dali, o coroinha, ainda nu, expiava seu pecado badalando o sino da igreja em respeito ao morto que naquele chão estava!
 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A Mulher do Próximo

                                            


Pontualmente, às 10 horas da manhã saía Jairo do elevador e caminhava pelo corredor para adentrar a seu escritório.

Cortez, porém, severo, e sisudo como a sua posição de empresário exigia, cumprimentou a secretária e os demais funcionários subalternos a ele que lá estavam para servi-lo desde as primeiras horas da manhã.


Jairo era um homem exemplar, um pai de família responsável ao extremo, marido zeloso e um bom filho também. Cuidava de todos e, antes mesmo de algum familiar lhe pedir alguma coisa como presente ou dinheiro, ele já se antecipava e dava um jeito de suprir aquela necessidade momentânea.
Pai amoroso que era, conservava na sua imensa mesa de executivo, feita em mármore Carrara, os retratos dos filhos e da mulher com quem era casado há quase 30 anos.

Tinha na parede de seu escritório um quadro com a foto de seu casamento emoldurada. Como estava linda Alice naquela noite! Dentro de um

vestido branco, de véu e grinalda, parecia ser ainda mais bela do que já era aquela jovem de pele clara como a neve, cabelos negros como a noite e lisos como a seda oriental!


-"Casou-se virgem, pura como uma santa"!- gabava-se Jairo a si mesmo enquanto degustava seu charuto cubano no fim do expediente.

Ele também só havia tido uma mulher em seus braços até hoje; Alice! Mas isso ele não gostava de admitir para ninguém, sequer para si mesmo!
Conheceram-se muito jovens, ambos de famílias tradicionais, abastadas, honradas... É claro que havia alguns deslizes e escândalos por parte de um ou outro familiar, mas, nada que o dinheiro e o poder não pudessem apagar.Quando a honra não advinha por mérito,vinha adquirida pelo vil metal!
Alice, até hoje, conserva o gosto pelas colônias raríssimas produzidas mundo afora. E foi com essa pele alva e perfumada que conquistou o coração do esposo.


Ele, um jovem tímido, não resistira quando Alice, certa vez, usava em seu pescoço e em seu colo aquela essência amadeirada e suave que só os bolsos da burguesia privilegiada poderiam adquirir.

Então, nessa mesma noite, ele a pedira em namoro após tirá-la para dançar no clube da elite em que ambos eram sócios.
O namoro iniciou-se com a aprovação de ambas as famílias e, após um curto noivado, aconteceu o enlace matrimonial entre Jairo e Alice.


A noite de núpcias foi numa daquelas suítes luxuosas num dos hotéis mais caros do mundo, em pleno frescor da primavera europeia. Ah, como se amaram naqueles dias de lua de mel! E não só naquele dia, pois até hoje se amam e se desejam tal a afinidade de gostos, posição social e grau de instrução.- "É um casal perfeito como nunca existiu antes"! comentavam os amigos e parentes dos cônjuges.
Jairo era austero demais e formal até com os amigos e, principalmente, com os funcionários. Não admitia liberdade e nem falta de respeito, principalmente quando lidava com mulheres. Ele tratava por senhora até suas funcionárias mais novas que estavam na casa dos 20 e poucos anos. "É assim que deve ser! Alice merece meu respeito"!- dizia para algum amigo que lhe reprovava seu pudor exacerbado ao lidar com as funcionárias jovens.

Numa sexta-feira, Jairo estava desesperado para terminar o expediente e ir para casa desfrutar de sua adorável família. Ansiava por levar Alice e o casal de filhos ao restaurante de sua preferência, do qual ele não abria mão de ir desde que se casou.
Nessa tarde, Jairo estava mais austero e sisudo do que nunca com todos os seus funcionários, inclusive com sua secretária, Dona Isabel.
Era dia 15, exatamente o dia em que o voluntário do orfanato da cidade vinha receber o donativo mensal que Jairo dava todo mês. Era um cheque generoso que, se o orfanato não recebesse mais nenhum donativo durante o resto do mês, já seria suficiente para prover todas as necessidades.


Aborrecido, ouve com desdém a secretária anunciar que o representante do orfanato estava lá para receber a doação do mês. "pois mande entrar, dona Isabel"!- respondeu exasperado para a secretária.
Jairo disse para si mesmo em voz baixa: - "Vou dispensar esse puxa-saco com esse maldito cheque e irei rapidamente para casa" – referindo-se ao voluntário do orfanato.
Então a porta de seu escritório abriu-se lentamente e, para sua surpresa, não estava entrando o conhecido voluntário do orfanato. "Vim no lugar do meu esposo. Ele está doente"! – disse a jovem moça.
Era uma galega bonita com um ar insolente que usava uma saia curtíssima que, com certeza absoluta, não havia sido confeccionada por grife alguma. Tinha nos pés uma sandália alta de cor viva, trazia os seios quase à mostra cobertos por uma blusinha vulgar e rota. Seus lábios estavam pintados por um batom brilhante, coisa que Jairo detestava. Por fim, exalava de seu corpo uma fragrância de desodorante barato, um cheiro fortíssimo, capaz de enjoar o mais delicado dos estômagos. Seu nome era Laura!



Por um instante, Jairo levantou-se alucinado da sua mesa de modo que fez Laura pensar que seria agredida por ele.


Mas não, aquele lorde estava provando uma sensação que jamais sentira em toda sua vida! Aquele perfume barato, aquela roupa vulgar e até mesmo aquela pequenas gotículas de suor que escorriam do rosto de Laura o atraíam profundamente! 

Seu corpo ficou hirto de excitação e ele desejou Laura no mais profundo de sua alma! Ela também ficou encantada pelos modos fidalgos e pela beleza de Jairo que não se conteve de paixão!


Beijaram-se e se abraçaram sem pronunciarem uma palavra sequer, numa volúpia animal! "Aqui não! Espere-me no elevador"! – sussurrou Jairo no ouvido da jovem.



Ela obedeceu e Jairo, mais que depressa,despediu-se de todos no escritório indo encontrar Laura, sem ninguém perceber.


Logo, entraram no carro e, quando ele viu uma aliança dourada de casamento no anelar da pobre moça, ficou ainda mais tarado por ela.
Após dirigir por algumas quadras, Jairo estacionou o carro numa rua deserta da periferia da cidade conhecida por abrigar prostíbulos e hotéis de baixíssimo nível. O próprio Jairo já não se reconhecia e estava impressionado com seu comportamento animal que contrariava sua criação, sua educação e seus princípios.
Esqueceu-se completamente da família enquanto saciava seu louco desejo carnal no corpo daquela jovem, sobretudo entre suas coxas a ponto de não retornar para casa naquela noite e em nenhum outro dia de sua vida!

Jairo vendeu na semana seguinte mesmo todos os seus bens e negócios, depositou metade do dinheiro de tudo na conta bancária de sua esposa Alice e fugiu para longe com aquela jovem ignorante, devassa e vulgar sem dar maiores explicações a ninguém.

Talvez o que mais o tenha atraído em Laura tenha sido o contraste com sua esposa Alice, aquela que sempre fora somente mulher dele, a quem ele tirara a virgindade para desposá-la. Já Laura, ao contrário de Alice, era mais encantadora por, justamente, ser a "Mulher do Próximo".

Enquanto isso, a esposa abandonada compreendia e sofria em silêncio o que de fato aconteceu com seu ex-marido ao achar, nas gavetas do escritório, um papel dobrado e amassado com uns versos escritos por ele mesmo e à mão que revelavam há muito o recôndito desejo de Jairo:

                                                          "Amor Profano"



Desejo a mais profana das paixões,/Sugar os seios hirtos, sussurrar palavras cálidas ao pé do ouvido,



lamber a pele alva e suave que te reveste!

Desejo aspirar tua essência mágica que exala de teu delicioso corpo frêmito de paixão.
Desejo o toque áspero de minhas rudes mãos em tua cintura e em teu quadril, curvando-te à altura de meu sexo para sentir de uma forma única e avassaladora o teu calor!
Desejo deitar o meu sobre o teu corpo, onde o suor já não se contém e derrete toda sua resistência ao prazer na cama alheia, no quarto alheio...
Quero dominar-te de uma forma que teus lábios não consigam exprimir outras palavras que não sejam meros suspiros monossilábicos de "AIS" vindo de teu intenso e bruto orgasmo!
Desejo te sentir profana ante minha expectante excitação, implorando por meu gozo úmido e,ao mesmo tempo, quente em teu ventre,mulher que não és minha!
E quando ambos, saciados estivermos, eu quero vestir-te e sair fugindo de teus braços feito louco a gritar: -"Agora és minha;és minha"!
E eu também me tornei por ti profano,porque do veneno de teus lábios provei./Ah,mulher profana,adúltera e perdida!


- Agora és minha; és minha"!


Alice leu os versos, derrubou uma solitária lágrima e guardou novamente o papel na gaveta.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A Meretriz


"A Meretriz"


Seus longos e escorridos cabelos ruivos ainda nem estavam totalmente secos, após o banho, esse por sinal digno de uma dama da realeza britânica, quando Tainá já se despedia do marido para ir cumprir sua dura rotina de trabalho.
- "Já vou, querido"! – despedia-se carinhosamente do esposo, roçando seus lábios encarnados nos dele.



Mário sairia mais tarde para trabalhar, seu horário era mais flexível que o de Tainá.

Não era, ele, ciumento, mas, não podia negar que se sentia um pouco incomodado, digamos assim, quando via Tainá saindo de casa muito bem vestida, perfumada, exalando a essência da sensualidade que toda mulher linda tem.
De fato, Tainá chamava a atenção por onde passava, não só por suas roupas provocantes e decotadas e nem pela minúscula lingerie que lhe marca a calça e a blusa. O que mais atraía olhares era o fantástico contraste entre seus cabelos naturalmente ruivos (que quase lembravam o carmesim) e sua pele branca como a neve que
recobre sutilmente a Europa nórdica no inverno; uma pele com a textura delicada daquela flor que nasce espontaneamente no jardim, conhecida por onze horas, pelo fato dela se abrir como num passe de mágica ao sentir o raio solar quente a marcar a quase metade do dia! E aqueles olhos azuis que lembravam pedras preciosas de topázio? Tainá era linda no conjunto, como uma dama pintada em tela por Renoir!

Mário não sabia exatamente onde a esposa trabalhava, apenas sabia que ela era vendedora em uma joalheria no centro da cidade. E não havia motivos para duvidar de Tainá, visto que seu salário no final do mês era religiosamente entregue ao esposo para, junto com o dele, serem pagas as despesas da casa. O que sobrava do montante era depositado numa poupança que ambos tinham em conjunto.

O marido estava acostumado com o jeito de se vestir da esposa, com o perfume provocante dela, enfim, mas nesse dia ele sentiu uma dose de ciúme que não sentira antes.
Preferiu não comentar com ela e nem com ninguém no seu trabalho sobre esse ciúme que, como um veneno letal, consumia suas entranhas provocando uma terrível dor e sensação de pavor.
No serviço, percebeu que alguns de seus colegas da repartição faziam certos comentários em voz baixa sempre quando Mário se afastava deles e aquilo o intrigou em demasia.
Na hora do almoço, Mário saiu com Antunes, seu grande amigo e colega de trabalho, e comentou com ele sobre aquele sentimento de ciúme que lhe brotou no coração, de forma incisiva, naquela manhã ao se despedir da mulher.
Por um instante, Mário sentiu-se envergonhado por começar a desconfiar da fidelidade de Tainá. Afinal, não havia motivo para isso, admitia para si e para o amigo. Ou haveria?
Antunes coça a cabeça meio sem jeito, acende um cigarro já na calçada, quando saíram do restaurante, e diz sutilmente.
- "Olha Mário, você sabe que sou seu amigo, não sabe"?
- "Claro que sei disso"; responde o outro.

- "Pois preciso te contar sobre os comentários que tenho ouvido sobre sua esposa, Tainá"!
No mesmo instante, Mário já percebeu que ouviria aquilo que ele jamais desconfiara nesses anos todos de casamento!Seu coração acelerou, suas mãos estremeceram e ele, como uma criança assustada, com o olhar parvo, pediu ao amigo:
- "Conte tudo que você sabe sobre minha mulher"!
O amigo, antes de dizer, aventou a possibilidade de que poderiam ser apenas boatos, fofocas e inveja daquele povo que admirava o feliz casal.
Mas quando Antunes contou o que andavam dizendo sobre Tainá, Mário pensou que não suportaria tal golpe e desejou a morte ali mesmo caso fosse verdade o que acabava de ouvir!
Não podia ser! Antunes disse que havia a possibilidade enorme de Tainá ser uma garota de programa, uma mulher que se prostituía nas imediações do fórum João Mendes, no centro de São Paulo, em plena luz do dia.
- "Mas você tem certeza que é ela, Antunes"?
- Como disse, pode ser boato, mas, não custa tirar a dúvida"! – ponderou Antunes.

Mário não retornou ao trabalho depois do almoço. Entrou no carro e seguiu para a rua onde, supostamente, estaria sua esposa vendendo seu corpo aos engravatados que frequentavam o fórum.
Chegou ao local e olhou em todas as ruas das imediações em que sabia existir prostituição a qualquer hora do dia e da noite. Constatou que tinha algumas mulheres bonitas se prostituindo, mas, nada de ver sua esposa.
Sentiu um alívio momentâneo e julgou-se um maluco ciumento e ridículo. Iria falar uns bons desaforos a Antunes que teria inventado toda essa calúnia sobre sua esposa.
Porém, ao virar a esquina, Mário vê Tainá saindo de um carro abraçada a um homem desconhecido!
Observa de longe, atônito, a esposa amada se despedindo daquele bacana e retornando, em seguida, para a calçada em frente ao Banco do Brasil, seu ponto de prostituição onde, em breve, iria vender-se outras vezes no dia para outros clientes.
Após uns minutos, sem ser visto por ela, ele percebe a esposa saindo de seu ponto acompanhado por outro homem na direção de um daqueles hotéis específicos para a prática dessa arte milenar: a prostituição!
Mário entrou no seu carro e foi embora para casa a fim de esperar Tainá. Iria matá-la naquela noite mesmo, assim que ela chegasse do "serviço".
Em casa, abriu o segredo do cofre onde ele guardava seu revólver de calibre 38 e o carregou. Tudo estava arquitetado já em sua cabeça: - "Mato essa vadia e depois me mato"! – dizia.
Logo, Tainá chegou a casa cansada de "trabalhar". Possuía ainda em seu corpo o perfume com que de manhã havia saído e veio caminhando na direção de Mário para beijá-lo como fazia sempre.
Ele escondeu o revólver debaixo do travesseiro e, quando sentiu o perfume daquela ruiva encantadora, mesmo sendo uma meretriz, correspondeu ao seu beijo e mandou que ela tirasse toda a roupa imediatamente.
Tainá estranhou, sabia que o marido era louco de desejo por ela e que sempre costumava tomar um banho antes de se entregar para ele na cama.
Ele insistiu que a queria naquele momento, sem banho mesmo. Pensou consigo que alguém prestes a ser assassinado não precisa tomar banho, Caberia ao agente funerário banhar aquela que, em
breve, seria uma defunta cravejada por balas de revólver!
E quem sabe se o agente funerário não seria um necrófilo que iria provar daquela nudez mórbida e daquele corpo onde o sangue já não mais corria nas veias? Delirava o marido!
Tainá obedeceu; tirou toda sua roupa e abriu-se inteira e por completo ao marido dizendo: - "Vem, sou sua"!

"Que cínica"! - Pensou Mário.

Ele também tirou sua roupa e deitou-se sobre a esposa com seu corpo teso!Pôs a mão sob o travesseiro lentamente e encostou-a na arma. –"Agora eu a mato"! – pensou. Porém, decidiu usufruir um pouco mais daquela meretriz que não via mais como esposa.
Curiosamente, sentia que o ódio e a decepção por ter descoberto que a esposa era uma rameira lhe aumentava o prazer sexual.
Logo, chegou ao orgasmo intenso imaginando a mulher que ele tanto amava e desejava nos braços de outros homens. Era preciso, contudo, matá-la!
- "A honra se lava com sangue"! refletiu.
De repente, em questão de segundos, empunhou a arma apontando-a para o rosto de Tainá dizendo: -"Eu sei de tudo! Eu vi"!
Ela começou a chorar, humilhada por aquele homem a quem amava com sinceridade, sim, apesar de ser quem ela era, amava-o!
- "Atira em mim; eu mereço ser morta"! – pedia ao seu algoz.
Mário teve um pensamento que não sabe de onde e nem como veio e falou em voz alta: - "Não há diferença entre a meretriz e a mulher fiel! A prostituta é lasciva no corpo e a mulher fiel é lasciva na mente"!
Imediatamente, jogou o revólver para debaixo da cama e amou aquela sórdida Messalina como nunca, sentindo um prazer que até então desconhecia!
E todos os dias na hora do almoço, Mário saía do serviço com seu carro e ia "deliciar-se" ao ver sua esposa se prostituindo na esquina da João Mendes! Quando chegavam a casa, à noite, os dois se amavam de forma devassa alcançando, juntos, orgasmos que nunca imaginaram existir. Mário e Tainá já não eram mais um casal, eram cúmplices na arte de amar!

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Jornal da Cidade

Meus sinceros agradecimentos pelas materias sobre meu trabalho literário publicadas no "JORNAL DA CIDADE" de autoria da prezada jornalista Aline Amorin (Mtb 50959)

Salto de Pirapora,24 de dezembro de 2015


Salto de Pirapora,24 de novembro de 2015



Salto de Pirapora/SP, 25 de agosto de 2015


 
 
Salto de Pirapora/SP, 24 de julho de 2015